O mar de Xaraiés
Como explicar a existência de lagoas de água salgada e conchas marinhas em pleno Pantanal? Conhecidas como salinas e espalhadas em regiões como a do Rio Negro e Nhecolândia, estas lagoas de várias cores (azuis, verdes, marrons, douradas) são ainda um redondo mistério para geólogos e arqueólogos.Geograficamente - acha o Dr. Antônio de Pádua Bertelli - em passadas eras geológicas, a região era de fato um mar que banhava o território brasileiro em seu interior, correndo do vale amazônico pela enorme calha do vale do Paraná até o estuário atual do Prata.
O médico paulista Antônio de Pádua Bertelli, autor de vários livros sobre o Pantanal, entre eles, "Pantanal, o Mar de Xaraiés", relata uma terra tão forte, mas tão forte, que acabou expulsando o mar, que há milhões de anos, quebrava suas ondas na Bolívia e no interior do Brasil.
Quando o continente, à deriva, sobre placas tectônicas, se atritou com outras placas, erguendo a Cordilheira dos Andes, os dois vales, Amazônico e do Paraná, também soergueram suas terras, e esvaziando mar que ali existia. Pela força da terra, o mar salgado foi expulso. O Pantanal, segundo esses estudos, é testemunho daquelas eras, reeditando a cada inundação suas feições antigas só que agora com água doce.
A história do Pantanal pode ser comparada a uma das montagens cenográficas mais caras dos filmes de Spilberg. Há 60 milhões de anos quando, num processo de acomodação da crosta terrestre, o planalto brasileiro elevou-se, e nesse movimento a repercussão estendeu-se até oeste, cuja casca, pressionada, rachou em várias direções.
Ciência
O magnífico cenário do Pantanal, hoje se sabe, enfeita um fundo côncavo situado entre as terras altas bolivianas a oeste e as serras brasileiras a leste. Há cerca de 60 milhões de anos, quando se elevaram tanto a Cordilheira dos Andes como o Planalto Brasileiro, a região do Pantanal, ao contrário, esvaziou-se. Quem conta é aquele que é considerado a maior autoridade em geomorfologia do Pantanal, o geógrafo paulista Aziz Nacib Ab Sáber, professor aposentado da Universidade de São Paulo.No bojo de um dos grandes movimentos de acomodação da crosta terrestre, o planalto brasileiro elevou-se algumas centenas de metros.Esse formidável solavanco foi repercutir a oeste, no imenso maciço de rocha e terra, cuja velha casca, pressionada, rachou em várias redireções. Por essas fendas, através da erosão, o conteúdo da abóboda lentamente se escoou, na direção do que hoje são as terras paraguaias e argentinas. Desventrado, esvaziado de seu recheio, o bolo se transformou numa funda planície cuja altitude média, em relação ao nível do mar, ficou entre 85 e 135 metros, enquanto os planaltos e serranias circundantes se elevava para 600 a 1100 metros.
Uma importante alteração se processara. Antes, a abóboda funcionava como um distribuidor de águas para as regiões em torno. Depois, contudo, era em sentido contrário queo os rios corriam, carregando detritos para o interior da recém-aberta depressão. Acumulados ao longo de milênios, esses depósitos, descreve o professor Ab Sáber, constituem hoje uma camada com cerca de 400 a 500 metros de espessura.
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